Desculpa, mas não posso respeitar que comas animais.

Se há frase dita exaustivamente por aqueles que comem animais é “respeitem a nossa escolha de comer assim”.

Alguém que respeita todos os animais, alguém que compreende que eles têm direito a ter uma vida digna, pois não são menos merecedores de paz do que nós, não pode simplesmente respeitar essa escolha. Como poderíamos respeitar que escolham comer animais, tendo a opção de não o fazer? Respeitar essa escolha é respeitar o que se passa antes daquele pedaço de carne chegar ao prato. Como poderíamos respeitar que alguém espete uma faca na barriga dum leitão? É um bebé. Como poderíamos respeitar que se roubem bebés a uma mãe vaca e os deixem presos num cubículo, onde não se podem mexer, para que a sua carne se mantenha tenra? Como poderíamos simplesmente respeitar que fêmeas sejam engravidadas à força, ligadas a máquinas, abusadas pelo seu leite, pela sua pele, pelas suas vísceras? Não podemos negar que essa realidade existe e podemos até compreender que muita gente desconhece este sofrimento e por isso compactua com isto, mas respeitar a opção quando é tomada com total conhecimento? Como podem pedir que se respeite o desrespeito? Como podem exigir que se respeite o sofrimento desnecessário? Como podem exigir que se respeite tortura, escravização e morte?

Pedir que se respeite o gosto de comer carne não é o mesmo que pedir que se respeite outro gosto qualquer, como o de um estilo de roupa, um clube ou um destino de viagem. O gosto de comer carne tem consequências dolorosas directas! Não exijam que quem vê e é sensível a isso, feche os olhos e ignore a dor que milhões de animais sentem diariamente.

Não é justo que tantos seres sofram terrivelmente por algo que é desnecessário, entendam isto! É natural que nos revoltemos. Revolta-me ver a indiferença alheia, revolta-me porque me DÓI saber e ver o que acontece, saber que todos poderíamos ajudar e tantos escolhem fingir que não vêem, só porque se habituaram ao sabor dum bife ou dum copo de leite. O paladar muda, transforma-se, refina-se! Para vocês, um pedaço de carne num prato é só mais uma refeição, são só mais umas trincadelas, para o animal que está no vosso prato aquilo era tudo! Era a VIDA dele, tão digna quanto a nossa!

Milhões de animais sofrem diariamente todo o tipo de horror. Por favor, não se escondam por trás do conto de que as vaquinhas andam livres nos campos e dão leitinho só porque têm excedente e precisam ser aliviadas, não se escondam por trás do conto que os ovos do supermercado são de galinhas que vivem em quintas, livres, a apanhar sol, e que deitam uns ovinhos de vez em quando! A realidade dos animais NÃO é um conto de fadas! É um conto de terror, feio e devastador, É REAL.

Por favor, não nos peçam que respeitemos isso…

48 comments

  1. Então se não respeitas os que comem a carne também não peças a esses para respeitarem a ti, e viveremos assim num mundo onde ninguém respeita ninguém.

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    • Eu não respeito a opção de comerem carne, mas não desejo mal algum. Não respeito que se maltrate desnecessariamente, como não respeito outro tipo de atrocidade, e nunca respeitarei. Nunca poderei respeitar coisas graves. Aceitar, que remédio, agora respeitar, como algo bonito e natural, nem pensar.

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      • Tudo bem, não respeites mas também não exijas respeito, isso seria ser hipócrita. Tenho vários conhecidos que são vegetarianos e pedem aos pais/amigos para respeitarem essa decisão e respeitam a decisão dos não vegetarianos, não concordam e acham errado mas respeitam porque afinal é escolha de cada um e cada qual vive como quer.
        Com certeza não tens amigos que não são vegans/vegetarianos certo? Nunca se pode ter uma amizade se não houver respeito mutuo, amizade e qualquer outro tipo de relação.

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        • Está difícil de entender… eu respeito as pessoas, mas não respeito as opções. Por acaso respeita a opção dum marido bater na mulher? Respeita a opção dum político lhe andar a roubar dinheiro? Entenda que respeitar uma pessoa (e eu respeito as pessoas) não é o mesmo que respeitar as opções dela. Eu não respeito o massacre de animais…

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        • Será verdade que, se um neonazi respeitar a nossa amada opção por democracia, nós teríamos de respeitar a sua opção por ditadura sanguinária? Em nome da coerência, claro.
          OK, entendo. Não se pode comparar a situação (embora tudo o que se possa fazer com as situações, seja compará-las). Mas a mesma lógica aplica-se. A diferença está em que posso ter familiares que comam carne, e amá-los, certo, e aceitar como eles são, enquanto que é-me difícil identificar com um neonazi desconhecido. Mas a minha opinião sobre a atitude de imposição sobre os animais não vai mudar, apenas porque pessoas de quem gosto não querem encarar esse assunto.

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    • Ó “Anónimo” – primeiro começa por respeitar os animais e só depois vais entender o que a Bárbara diz.
      E respeitar os animais não quer dizer matá-los de uma maneira ou de outra. Quer dizer mesmo RESPEITAR OS ANIMAIS !!!
      Entendeste “Anónimo”? Ou queres que te faça um desenho?

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    • Respeitar as pessoas e respeitar as suas opções são coisas MUITO distintas.
      Como podemos respeitar quem não respeita a VIDA de TODOS os animais?
      Empatia! Compassividade! Nem todos têm, nem todos sabem o que é!

      Há pessoas que nunca vão perceber 😦

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    • OK, respeito-o a si por comer carne, mas assim sendo vou ter de respeitar também todos os outros… por exemplo alguém que porventura venha a abusar de uma filha sua, menor, e sem capacidade de se defender!
      O que acha? …estamos combinados? …respeito com respeito se paga certo? …então respeitemos colocando tudo no mesmo saco…

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  2. oh!!! a sério, tu sabes como se cria um porco? sabes pra que serve um porco? explica lá o q fazer aos porquinhos se num for para os comer? deixá los viver livremente pelos campos, adoptá-los? e as cabrinhas e as galinhas e os perús e as vaquinhas …. queria ver te a sobreviver sem um frigorífico ou sem um fogão a gás, sim 100% sem fazer sofrer nada nem ninguém.

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    • Se calhar ficará admirado por saber que há gente que tem porquinhos, cabrinhas, galinhas, perús, vaquinhas e não os come!
      O que tem a ver a questão do frigorífico a ver??
      Ah, há muita gente que sobrevive sem frigorífico e sem fogão… eu ainda os uso, mas não sei se usarei a vida toda 🙂

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    • Se ninguém comesse porco e vaquinhas, elas simplesmente não eram reproduzidas à força na escala em que são, não existiriam viveiros, e não existiria este exagero de animais no planeta, que está a congestionar de lodo fecal o nosso solo, oceanos, e atmosfera.
      O real problema para justificar o não acabar com o sofrimento e falta de misericórdia é não sabermos o que fazer com tantos animais se não for para comer? A sério?
      E sim, conheço muitos vegan e sou um. Ou seja, alimento-me sem fazer sofrer animais, pelo menos até onde a minha consciência chega. Posso sem querer pisar o pé de alguém no metro, inflingindo dor insuportavel. Mas aquela que posso evitar, evito.

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  3. Fui vegetariana durante anos; já não sou, pelo simples facto de que há prazeres gastronómicos dos quais não quero continuar a abdicar. Honestamente, não me interessa o respeito de ninguém: alimento-me como quero e isso basta-me.

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    • Pois, não quer abdicar, coloca o paladar acima da vida dos animais. Como se fosse mais importante o momento em que mastigamos, do que a vida desses animais. E a ousadia de acharmos, que temos o direito, de explorar, de sacrificar, tantas vidas, por algo chamado “prazer gastronómico”…

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    • Está confortável, assim sendo, com a utilização de animais como mercadoria, independentemente do sofrimento inflingido? É justificável mães verem os seus filhos arrancados de si, a tortura completa de outros seres, e o genocídio, apenas porque não se tratam de seres humanos?
      E mesmo partindo do princípio que tudo isto não é connosco, que os animais estão aqui para nos servir através do seu sofrimento (e não estão, tanto que nós temos de replicá-los a muito custo e insustentavelmente) – ainda assim, é isso que queremos nós nos nossos pratos? A carne stressada, carregada de antibióticos, hormonas, e sofrimento? E em nome de que dieta? Aquela a que nos trouxe ao novo flagelo da obesidade crónica, diabetes, doença cardíaca?
      Qual o sentido em escolher um prazer gastronómico em específico sabendo de tudo isto, com as escolhas infinitas que temos hoje? (pergunta sincera, não consigo entender)

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  4. Hipocrisia
    Este país, este mundo está cheio disto, falsa moralidade.
    Não se respeita os outros na sua decisão porque achamos que…. No entanto, contribuímos todos sem excepção na interferência dos direitos dos demais, contribuímos todos, não só aqueles que não acham como nós!

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    • Não dá para debater com quem não tem a coragem de deixar de ser anônimo. Dai já se vê que não passa de uma pessoa covarde é insegura. Que se omite diante da dor e do sofrimento e ainda se omite em defender as suas ideias. O que vc seria capaz de fazer para a construção de um mundo melhor anônimo? Porque não se trata apenas de ser sensível a dor dos animais. Mas também a preocupação ambiental em que vivemos. O consumo de carne é extremamente prejudicial ao planeta. Seu egoísmo é tão estupido é incapaz de enxergar isso?

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  5. Por um lado muito bom de ler de uma sensibilidade e de um afecto tremendo… mas o que retratas doí… Há comentários aqui que mais parece que não leram o que escreveste.

    A rotura com a tradição é uma rotura com aquilo que nos é familiar, com aquilo
    que toda uma grande cultura nos ensinou a ser enquanto indivíduos inseridos. Em
    contra-ponto, é onde nos revemos onde nos identificamos e construímos toda
    a nossa identidade individual. E numa comunidade as acções individuais afectam o colectivo e vice-versa.
    O consumo da carne tem tido o seu papel na construção do individuo em sociedade que vai para além do seu aspecto quanto possível alimento.
    Apresentando-se como um símbolo social naquilo que é a construção do ser no paradigma cultural actual, sobretudo no que respeita à cultura ocidental de uma longa e ancestral tradição de sacrifício animal, ou por motivos religiosos ou pagãos, como a própria abstinência aparece com um reforço da importância do seu papel naquilo que é identidade de um grupo social.

    Acredito cada vez mais que a construção da ideia que o ser humano necessita de carne para sobreviver venha, de forçar factos a teorias, para sustentar um hábito só pelo puro prazer, assemelhando-se mais a um prazer de vício. O ser humano precisa de ser nutrido e esta grande capacidade de adaptação alimentar permite em tempo de escassez recorrer a formas mais sórdidas de nos alimentar. Mas há
    regimes que nos prosperam e outros que nos atrofiam. E a dieta nos moldes actuais é suicídio…

    Quando é feita a rotura principalmente para não participar na violência que é ser o capataz que determina o tempo útil de vida de um ser, que até ao período de execução se condiciona a criatura ao mínimo necessário, para a maior rendibilidade da sua carne e já não se suporta por um gasto na vida e um lucro na morte para puro deleite dos sentidos (porque nem só a boca come). Então a rotura não é só individual mas é uma rotura no colectivo e uma procura
    de mudança de consciência. E aqui independentemente de um maior ou menor silêncio da parte de quem fez a rotura, vai afectar e levantar questões ao seu redor. Principalmente porque quem faz a rotura e deixa de comer carne
    é porque percebe a violência das suas acções e não pretende ser agente nem a vitima nesse ciclo vicioso e sente a responsabilidade de provocar a mudança entre os seus pares. Porque procura-se a inclusão na igualdade do direito à vida a todos os seres e neste sentido quem exclui a carne do seu cardápio promove a prosperidade de todos os seres na sua plenitude.

    grata pela partilha e pelo espaço de opinião! :}

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  6. eu so pergunto uma coisa nao ha tanta forma de nos alimentarmos sem sacrificar os animais imaginem so voçes ter um bebe em casa e entrar alguem e pegar nele para matar ,,o que sentiria vosso coraçao,,,entao, os animais sao seres vivos como nos sofrem como nos tem dor como nos,,e tem muito amor por nos,,RESPEITAMOS ISSO,,,NAO AO ABATE DE ANIMAIS,,,,,ASS,,,MARIA,,,

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  7. O grande problema é que as pessoas nem escolhem. Estão habituadas e não têm energia para parar e equacionar, seja isto ou seja tudo. Pior do que ser ignorante é querer se-lo para não afectar o auto-conforto.

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  8. Olá Bárbara. Acho que nunca comentei aqui, mas tenho seguido o teu percurso aqui e no grupo da Zlati.
    Eu percebo perfeitamente o que queres dizer, e concordo com o teu ponto de vista, mas, pelo menos comigo é o contrário, respeito a opção de cada um, seja consumindo, ou não, produtos de origem animal, mas não a consigo aceitar. Respeito enquanto decisão, mas não aceito enquanto opção, não sabendo o mal que esses produtos fazem à nossa saúde, principalmente. Entendo que nem todos sintam essa afectividade com os animais (eu própria não a sinto com a mesma força que tu, embora me revolte a maneira como os animais para consumo são tratados), mas quando sabemos que faz mal a nós próprios e mesmo assim continuamos a consumir porque “estamos habituados” ou porque diz que “faz mais mal se não os consumirmos”, acho que é uma questão de caminho, de consciência. Pode não ser por mal, mas simplesmente as pessoas ainda não chegaram a um estágio de consciência maior, em que entendem essas questões. Sabes que muitas pessoas, quando comem salsichas, nem têm bem noção de que ali estão partes de um porquinho, por exemplo (este exemplo ví até num vídeo de uma experiência social, em que as pessoas queriam levar salsichas frescas para casa, mas ficaram chocadíssimas quando se punha um porco inteiro a “ser ensalsichado” numa máquina).
    Pessoalmente acho que devemos respeitar as decisões e opções dos outros, quer gostemos quer não, mas podemos não aceitá-las e tentar desbloquear as suas mentes para perceberem por que é tão errado fazerêm-no.
    Beijinho *

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  9. Com os inúmeros estudos que provam que as plantas também sentem dor, também sofrem, como justifica a Bárbara fazer sofrer esses seres vivos vegetais? Quem somos nós para ter a certeza que seres vivos sofrem ou deixam de sofrer? Estaria a Bárbara disposta a viver alimentar-se apenas a soro para o resto da vida para deixar de fazer sofrer seres vivos para a sua alimentação?
    Sou contra qualquer sofrimento provocado a animais para qualquer outro intuito que não a alimentação. e mesmo para a alimentação existem maneiras e maneiras de acabar com a vida do animal. Mas deixarmos de matar qualquer ser vivo mesmo que seja para comer, porquê parar nos animais? pense no sofrimento das plantas Barbara.
    Em milhões e milhões de anos de evolução a natureza garantiu que todos os seres vivos dependem de comer outros seres vivos para a sua subsistência. E até um dia aprendermos a fazer nós mesmo fotossíntese, estamos destinados a continuar a faze-lo.
    Dizer que respeita os seres vivos e por isso não come animais, quando mata plantas para sobreviver é ser hipócrita. Só porque não têm uma carinha fofinha e não gritam, o sofrimento das mesmas não tem o mesmo valor?
    Continue a comer o que lhe apeteça. Mas não seja hipócrita por favor.
    Estou consigo na luta conta matar ou maltratar animais para nosso entretenimento, ou mesmo na luta para uma morte menos dolorosa para os que consumimos. Mas não estou consigo na hipocrisia.
    Cumprimentos e boas festas!

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    • Viva,
      O comentário não me é dirigido, mas no entanto peço licença para contribuir para o debate com algumas ideias.
      Não vi no post original menção a “repeito por seres vivos”, nem entendo que seja esse o tema. Li o que me pareceu um artigo sobre o respeito por todos os Animais, e não detectei nenhuma hipocrisia. Caso o facto de alguém achar que deve respeitar todos os animais e em simultâneo ingerir plantas seja uma hipocrisia, por si só, na opinião do Manel, então a minha pergunta é a seguinte – Não será compreensível que nos identifiquemos mais com o sofrimento que nos é análogo, o sofrimento de um animal, que nos é conhecido, semelhante, palpável, concreto e comprovado?
      Como o Manel diz, existem inúmeros estudos que indicam que as plantas sentem, e isso parece-me evidente. Mas operarmos com base em coisas que não sabemos, aí já me parece desonestidade intelectual. Não sabemos que as plantas sentem como nós, e nem me parece algo provável, sendo que somos estruturalmente diferentes (nem sistema nervoso partilhamos). “Porquê parar nos animais?” Da mesma maneira que as pessoas que ingerem carne param nas pessoas (os que não são canibais), devemos traçar a linha onde a nossa consciência nos dita. Como o Manel indica, a norma dos seres vivos é alimentarem-se de outros seres vivos. Se consigo fazer isso sem causar carnificina, sofrimento atroz, atacar animais que sentem e pensam como nós, parece-me que já é um grande avanço em termos de harmonia e consciência. As plantas são outro debate, e quem sabe ainda o que temos a aprender e evoluir nesse campo?
      Em suma, estou em crer que se observarmos uma galinha ser colocada sobre chamas, e ao vermos a sua reação de pânico e agonia, vamos empatizar muito mais profundamente do que ao vermos colocar uma couve numa frigideira. Certo que a couve não fugir não significa que não sinta o que está a ocorrer, mas a meu ver, hipocrisia é pretender que o fenómeno que ocorre ao matar um animal e matar uma planta é o mesmo ao nível moral, ético, e pessoal.
      Não que o debate da sensiência das plantas não seja interessante, e com certeza haverá formas ainda mais harmoniosas de convivermos com todos os seres vivos neste planeta (exemplo: ao colher um fruto não estamos a matar a árvore).

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      • Boa noite,

        A virtude está no meio que, é como quem diz, concordo com o Manel e com o João mas em pontos diferentes.

        Sem dúvida que a criação de gado é, por vezes, atroz; e, que se nos pudermos alimentar sem causar carnificina, sofrimento atroz, atacar animais que sentem e pensam como nós, tanto melhor! Mas, atenção, não há animais que sintam e pensem como nós.. os mais próximos são alguns símios, golfinhos, cães, porcos… Um mosquito, uma sardinha ou uma alforreca já não.

        Discordo quando o Manel diz que a autora está a ser hipócrita por comer plantas e não animais e, por coerência de posição, discordo do João quando diz que é hipocrisia achar que matar um animal e matar uma planta estão em níveis éticos, morais e pessoal distintos. Pessoas diferentes, criadas em contextos diferentes e com necessidades diferentes terão, obrigatoriamente, “níveis” ou perspectivas diferentes sobre onde se situa essa suposta linha moral, ética e pessoal. E se a traça nos humanos, nos animais ou nos seres vivos, como aliás diz o João e bem – traçar a linha onde nos dita a consciência.

        Se assim o é, porquê uma pretensa superioridade ética, moral e pessoal ao traçar a linha nos animais? Porque é que é aí que está certo e não nos seres vivos, nos humanos ou não haver linhas de todo? E, se ninguém é dono da razão (a não ser que se auto-atestem de tal, podem fazê-lo se o acharem), porquê desrespeitar os outros por isso, assediando-os e tentando doutriná-los num sentido que eles liminarmente rejeitam? Serão os veganos donos da razão e os paladinos da verdade?

        Acho que existe incoerência (para não continuar a utilizar hipocrisia) por parte da Bárbara muito simplesmente porque diz que não é capaz de respeitar quem coma carne mas, na entrevista que dá diz que, caso o filho decida comer carne, que respeitará a sua escolha. Em que ficamos, respeita ou não respeita? Somos todos animais mas há uns mais animais que outros. Se um animal tiver que sofrer para que a medicina possa avançar e eu e a minha família possamos viver mais tempo, vejo-o como um mal necessário e não tenho qualquer problema de consciência com isso. Serei um monstro? Acredito que não.

        Já agora gostava de fazer uma pergunta ao João e à Bárbara: o que pensam dos animais de estimação, possuem algum? E como o alimentam?

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        • Vou ter de respeitar que é uma opção do meu filho comer, é a vida dele, mas não vou respeitar essa opção, no sentido de achar que é tão válida como a de não comer. Respeito que como ser humano, tome as suas decisões, mas não respeito a decisão em si. Acho que aqui o problema está no português, já tive esta discussão com algumas pessoas. Eu respeito a pessoa, mas a opção não. Se ele quiser comer, respeitarei, mas não concordo com a opção… De momento não tenho animais de estimação.

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        • Viva,

          Em resposta ao/à último/a comentador(a) anónimo/a (não sei se será notificado/a desta resposta), estamos mais de acordo do que pelos vistos se pensa.

          ” (…) Discordo do João quando diz que é hipocrisia achar que matar um animal e matar uma planta estão em níveis éticos, morais e pessoal distintos.”

          Eu penso que estão em níveis de moralidade distintos, e foi isso mesmo que disse no meu comentário. Deverá apenas ter existido alguma confusão.

          Quanto ao respeito, penso que é de realçar o que a Bárbara sublinha quando diz que não existe falta de respeito pelas pessoas, o que está em causa é a opinião. E aqui, a profunda coerência para a qual somos moralmente compelidos à medida que a consciência destes temas desperta, é que ao respeitar os animais e o seu direito a não sofrer nem serem tratados como objectos, não podemos em simultâneo respeitar o facto de que não o são. Mas não há motivos para não respeitar as pessoas que pensam de forma diferente, claro, e o diálogo é a única forma de todos nos entendermos.

          Uma última nota relativa à “linha de separação”. Concordo em absoluto que não exista nenhum conceito moral absoluto, nem tampouco se pode dizer que neste mundo alguém tem mais legitimidade ou uma moral imaculada. Então porquê traçar a linha aqui e não ali? Porquê nos animais e não nos seres vivos? Muito embora não exista uma moral absoluta, existe um conceito de moral colectiva, e ao longo do tempo todos temos concordado que foi uma evolução benéfica para a humanidade sempre que os níveis de consciência e compaixão subiram colectivamente. Aqui o conceito-chave, a meu ver, está no sofrimento, o sofrimento tal como o conhecemos e com o qual nos identificamos ocorre no mundo animal, e como tal, e se podemos, julgo que é desejável atingirmos esse patamar ético, não sendo necessário considerá-lo superior ou inferior a outros. Simplesmente parece-me mais “humano”. Traçar a linha abaixo ou acima da alforreca é um tema relativamente menor em toda esta questão, apesar de tudo, e ainda assim terá de se traçar a linha nalgum sítio. (o sofrimento não será a única ligação que estabelece esta coerência, mas para mim é o principal).

          Relativamente a animais de estimação, é um tema sobre o qual ainda tenho muito a reflectir, estudar e apreciar. Tenho dois cães que estavam abandonados, um deles recolhi directamente da rua, evitando o fim de vida provável e o sofrimento certo. Não acho que seja sensato ter-se animais de estimação só por se ter, especialmente quem tem poucas condições para que mantenham os seus níveis de actividade normais. Quanto à alimentação, muito do que comem é completamente vegano, mas não só. Muita “família” oferece de outras coisas, e eu próprio já tenho utilizado rações com produtos animais. Estudo no entanto todas as implicações, é um trabalho em curso.

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        • Ainda em resposta a anónimo:

          “E, se ninguém é dono da razão (a não ser que se auto-atestem de tal, podem fazê-lo se o acharem), porquê desrespeitar os outros por isso, assediando-os e tentando doutriná-los num sentido que eles liminarmente rejeitam? Serão os veganos donos da razão e os paladinos da verdade?”

          Esta dúvida também é recorrente, mas é algo que não me causa muita confusão.

          Reparemos então, as pessoas que são esses supostos “alvos” do desrespeito vegano racionalizam facil e frequentemente que os seres vivos comem seres vivos e essa é a lei da natureza, e como tal os seres humanos perseguem, matam e alimentam-se de outros seres vivos em nome da cadeia alimentar. Também não será fácil de entender que, quando movidos pela compaixão, os seres humanos se movam em defesa de quem está em sofrimento? Essa compaixão também é um valor humano, tão intrínseco em nós como outro qualquer. Não aconteceram já movimentos semelhantes ao longo da história? Se esta compaixão em particular é justificada ou não, aí está o diferendo. Mas compaixão é compaixão, e leva à acção, particularmente quando sabemos que as vítimas não têm a mínima chance de se defender.

          Isto implica confronto directo entre opiniões, certo. Mas não estou a ver onde está todo esse assédio. Não conheço casos de perseguição ou bullying a não-veganos, movimentando-me nesta sociedade vejo que é muito difícil existirem fóruns e debates sobre esta causa em grupos maioritariamente não-veganos sem que surjam as habituais “piadinhas” sobre relva, e tendo uma alimentação vegana muito raramente inicio conversas deste género, mas frequentemente pessoas não-veganas iniciam-nas elas próprias por curiosidade. Além de que a maior parte das vezes que alguém se acusa como estando desconfortável com o tema parece-me que é um desconforto causado pelo confronto com a própria consciência – afinal de contas, se nos é tão natural matar e comer animais, não deveria ser desconfortável falar disso, e debater amigavelmente as opiniões.

          Em suma, existem pessoas que querem fazer valer a sua opinião como única doutrina válida? Lógica, e estatisticamente falando deverão ser mais os não-veganos nessas circunstâncias. Mas existe uma diferença entre essa posição e lutar por uma causa.

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  10. Tens nocao, que o comer animais não implica virem de um matadouro ou de cativeiro, não tens? Também tens nocao que o impacto do homem, mesmo a casa onde vives, já afectou muitas espécies no passado? Fala-se que o extremismo e mau, e de repente a vem alguém como tu, com palavras de “odio”, como se as pessoas fossem alguns monstros. No entanto tu e que atacas em vez de apenas explicares. Deves sim respeitar a opinião dos outros, as escolhas, podes não aceitar mas deves respeitar. Ao menos dá-te ao trabalho de tentar explicar onde queres chegar, em vez de andares com esse discurso generalista, como se todos comessem animais vindos do talho ou da peixaria. Quase que aposto que tens animais de estimação e impões que eles sejam vegetarianos…. E que se não o fazes, so falta mesmo isso. E antes que venhas com o discurso do “os animais são irracionais nos os homens não”, diz-me um animal que estrague comida, e apanhe ou ande a caçar mais do que precisa para viver….

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    • Ódio? Eu odeio o acto de se explorarem animais, mas não odeio ninguém… Não me conheces. Este texto não foi para me explicar, os vegetarianos felizmente entendem o intuito dele, pois levamos com isto todos os dias. A minha opção é firme e feliz, não preciso de me explicar ou de aprovação alheia. Por acaso não, não tenho animais, mas já tive, e dava-lhes ração “comum”… Vais-me dizer que és um daqueles que só come carne e peixe que caça/pesca? Porque já apareceram alguns por aqui, mas vai-se a ver e é mentira… podem caçar e pescar, mas também comem carne de matadouros, por isso o discurso cai por terra… Não acho que as pessoas sejam monstros, acho é que estão adormecidas… Fica bem*

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      • Na minha opinião todo mundo é hipócrita, carnívoros comem animais que sofrem bastante pra entrar no estômago deles. Os vegetarianos e veganos comem plantas que sofrem pra entrar no estômago deles.

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        • As plantas não têm sistema nervoso central, logo não sentem dor. Mas imaginando que sentem, é sempre preferível comer as plantas, do que comer animais que precisam comer plantas para depois os podermos comer. Se matam menos plantas sendo vegano, do que sendo carnista 🙂

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        • “As plantas não têm sistema nervoso central, logo não sentem dor.” – falso. Não está provado que é preciso ter sistema nervoso para se sentir dor. está sim provado q as plantas reagem contras as ameças e ate comunicam essas ameaças umas com as outras. O primeiro passo para os Vegan serem mais respeitados é respeitarem. Chamarem de Carnivoros ou “Carnistas” (em q lingua é isso?) aos Omnivoros, é simplesmente ofensivo e falso.

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  11. Olá, gostei do texto. como carne e peixe…mas cheguei aqui porque procuro outra alimentação.sou tudo o que atrás disseram: adoro animais (desde criança)mas nunca me fiz mtas perguntas de onde eles vieram e o que sofreram para estar no meu prato, agora comecei a pensar mais nisso e estou na fase de introduzir mais vegetais, leguminosas na minha alimentação, de cortar com o leite (como iogurtes e queijos) e comer menos porçoes de carne e peixe (e sempre que como vejo imagens dos animais que estou a comer…). Mas compreendam que é difícil mudar de hábitos porque: sempre assim comi + há uma pressão à minha volta para continuar assim a comer + tenho uma família e basta eu tentar mudar um pouco a alimentação dizem que o que eu quero é emagrecer…+ já começam a vigiar a quantidade de carne/peixe que eu cozinho para as refeições.Por isso, vou introduzindo alterações aos poucos, para mim mais alterações que para eles e vamos ver como as coisas correm.

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    • Eu morava com os meus pais quando me tornei vegetariana. Claro que foi um choque, não compreendiam, e disseram que teria de cozinhar as minhas refeições. Durante esse primeiro ano, ainda falhei bastantes vezes, por pressão alheia, mas no ano seguinte, decidi que o que eu como, sou eu que decido, e não voltei mais atrás. Tens de mostrar certezas e firmeza, e passar informação útil para compreenderem que não é um bicho de 7 cabeças 🙂 beijinho e força!

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